Frio

O dia adormeceu envolto num manto negro e gelado, usado especialmente nesta quadra natalícia em que as temperaturas descem para os graus negativos. Aproximei-me da janela, mas o ar condensado da minha respiração, mais o nevoeiro denso e pesado não me deixaram ver para lá das vidraças. A Kika juntou-se a mim e subiu para o parapeito da janela, dando-me marradinhas nos meus braços, espreguiçava-se e esticava o pescoço tentando espreitar para a rua onde a luz do candeeiro parecia um pirilampo no meio daquela neblina. A Dará sentada no tapete, espetava as orelhas como quem pergunta o que estávamos a fazer àquela hora debruçadas na janela. Sorri para ela e fiz-lhe uma festa, porque eu e ela tínhamos acabado de levar a minha irmã à carrinha de transportes dos bombeiros que a levou, às 6 horas da manhã, até Portalegre onde ela faz hemodiálise 3 dias por semana. Voltei a deitar-me, mas o sono tinha-me deixado com tempo suficiente para eu percorrer pensamentos que nesta altura me fizeram rir e chorar ao mesmo tempo. Época natalícia, celebração do nascimento de Jesus, festa em que as famílias se reúnem, vencendo distancias, ultrapassando discórdias para festejar o amor. e por um momento o coração contraísse-me no peito e faz-me lembrar que não tenho descendência, e que ninguém vem, nem de longe nem de perto celebrar o Natal comigo e umas lágrimas despenharam-se pelo meu rosto e morreram no meu sorriso porque este natal eu não vou passar sozinha.

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