Raiva
Hoje apetece-me abrir a janela e gritar ao vento este sentimento desconfortável provocado por essa sociedade putrefacta e mal cheirosa onde as mentiras de tanto se repetirem são instituídas como verdades e se revestem de atractivos que fazem luzir o homem, ao ponto de se deixarem dominar pela cobiça e possuir o que não lhe pertence, querendo mais e mais, sem nunca haver um basta.
Gritar contra aqueles que usam a politica para seu próprio conforto esquecendo que politica, (denomina-se a arte ou ciência da organização, direcção e administração de nações ou Estados ), não os interesses pessoais, nem para o seu próprio enriquecimento, nem para que escravizarem o povo.
Disputam-se lugares que não querem perder, desfalca-se o país com politicas fraudulentas, que beneficiam a conta pessoal e o ego de alguns lidres, com mentiras e favorecimentos, enganam o povo a conta duma justiça que não funciona porque as leis as fabricaram eles.
Verdadeiro estrume dentro e fora do parlamento onde alguma gente séria, "que será pouca", outros passivos deixam-se enebriar com os maus cheiros ou mergulham no sono ou nentão nalgum jogo on-line mantendo assim a cadeirinha ocupada e ganharem o bem bom ao fim do mês.
Ai que raiva ao ver ladroes de grandes fortunas “colarinho branco” protegidos por essa justiça, que não obriga essa gentalha a devolver o que roubaram dos cofres do estado e por conseguinte dos bolsos do povo.
E gritei assim no silencio das palavras o que me faz doer na alma ao olhar para lá dum sonho que a ganância pelo poder frustrou, transformando a politica em gatunagem, desacreditando quem a use.
As histórias começam assim:
Era uma vez uma menina, que morava numa aldeia ali para os
arredores de Coimbra, quarta filha de um casal já na casa dos 50 anos.
Essa menina era muito à frente do seu tempo , mas as
necessidades no lar dessa menina obrigaram-na a ir trabalhar muito sedo, em vez de estudar como era do seu desejo. Primeiro para
uma fábrica de malhas, depois para uma pastelaria na distribuição, a entregar
pelas pastelarias, quer chovesse ou
fizesse sol, carregando tabuleiros à
cabeça a entregar a pastelaria pelos cafés da cidade de Coimbra.
Ela tinha pouco mais de dez anos quando recebeu o seu
primeiro salário, em 1968 era admitida na segurança social.
Essa menina cresceu num regime onde até fazer amizades, era
um atentado ao regime que governava o nosso pais e mais que duas pessoas a
conversar era considerada uma manifestação. Trabalhou entre informadores da
PID, a quem também se chamavam “ bufos”.
Essa mulher que quase não teve tempo para ser menina, acreditava
que um dia as coisas poderiam mudar, mas para isso era preciso lutar contra as
leis, desse regime ditador que limitava os horizontes do povo e do país, de
crescer e se desenvolver, mas acima de tudo isso era o castigo dado pela PID a
quem se atrevia a manifestar pensamentos ou opiniões contrários aos do governo.
Com a mala do carro cheia de latas de tinta e pincéis, ela e
mais alguns crédulos amigos iam pala calada da noite, gritando em silêncio nas
pinceladas com que escreviam as palavras contra a ditadura em desejos de
liberdade.
E um dia sentada num dos bancos que ladeiam a Praça da
Republica em Coimbra, quase que por instinto, correu também ao ver correr
outros jovens em direcção a lugares diferentes. Mas esqueceu os cadernos em
cima do dito banco. Ainda não tinha chegado ao colégio onde estudava, como
trabalhadora estudante, já lá estavam os senhores das gabardinas, com os meus cadernos
na mão.
E consequência dessa estúpida fuga, levaram-na com eles.
Foram horas e horas de perguntas para saber o motivo por que
ela correu. Baralharam-na com nomes de pessoas, querendo que ela admitisse que conhecia
alguns dos jovens envolvidos
naquele manifesto no dia tal ou
no lugar tal, cansaram-na e só não a massacraram mais porque conheciam o seu
apelido e aceitassem a versão que lhes foi contada, que por acaso era
verdade.
Ela viu correr pessoas e assustou-se e correu também, mas também
correu por força do hábito.
E quando eram quase horas de almoço, o pai chegou, para a
resgatar , mas antes de qualquer pergunta,
desapertou o cinto das calças e quando chega junto dela tira-o das presilhas
e atira-o dobrado uma e outra vez, contra o seu corpo, com os olhos rasos de
lágrimas, tendo sobre si os olhos fixos homenzinhos, daquela casa de terrores .
O pai bateu-lhe para a libertar e ela nunca esqueceu aquele
dia
Aconteceu no século passado, no mesmo ano em que aconteceu
Abril
Solidão
Abri a minha janela e não vi o arco-íris que sempre me estende as suas
cores no mais terno abraço, também não senti aquela brisa que sempre
me beija o rosto, quando espreito para lá de mim.
cores no mais terno abraço, também não senti aquela brisa que sempre
me beija o rosto, quando espreito para lá de mim.
Encontrei a solidão que teimou em fazer-me companhia.
Depois veio a tristeza e por fim a desilusão, más companhias eu sei,
mas estavam presentes quando chorei, ouviram-me quando gritei e
sentiram comigo a mesma dor que me atormenta nesta hora em que o
arco-íris não veio brilhar no horizonte da minha janela.
Depois veio a tristeza e por fim a desilusão, más companhias eu sei,
mas estavam presentes quando chorei, ouviram-me quando gritei e
sentiram comigo a mesma dor que me atormenta nesta hora em que o
arco-íris não veio brilhar no horizonte da minha janela.
Hoje é dia 01 de Setembro, e eu faço 58 anos.
Depois de ter deixado a minha irmã aos cuidados dos bombeiros, que a transportaram para Portalegre onde foi fazer hemodiálise, subi até ao meu quarto, abri a janela e fiquei ali, até que o tempo me alertou de que estava na hora de me preparar para ir trabalhar.
Sem conseguir segurar as lágrimas que se acumularam dentro do peito, e que me faziam doer ao respirar.
Lembrei-me de ti querida mãe e senti
Tanta saudade, do cheiro da tua pele quando me abraçavas, do som melodioso da tua voz e das fúrias que te davam quando te irritavas comigo.
Sei que não me ouves, que não me vez, nem me sentes, mas mesmo assim meu coração sentiu este desejo de te pedir desculpa, pelas contrariedades que te dei enquanto criança e adolescente, e dizer que te amo. Se vivesses, fazias 108 anos no dia 20 de Setembro.
Tempo de vida que poucos mortais alcançam.
Partiste mas deixas-te na minha memória recordações de momentos partilhados e muitas aprendizagens que me tem ajudado nesta jornada da vida, onde coisas boas e más acontecem e que nos fazem rir e chorar. Só não me ensinaste a defender-me da maldade, porque também não a conhecias, por causa disso sou muitas vezes apanhada desprevenida.
Não esqueço mãe aquele dia em que, com respiração ofegante e por de trás dos tubos de oxigénio, me mandas-te vir a Elvas para a entrevista de emprego, sabendo que se eu fosse aceite tu não virias comigo. Continuei à janela um pouco mais deixando as lágrimas caírem para matar esta saudade e dizer-te que a minha irmã “ mãezinha” está comigo e está bem.
Sufocada
Quase que mofo, aqui escondida por detrás da minha janela, por não me ter apetecido abri-la, nem espreitar através dela.
Não por falta de assunto que me faça debruçar sobre ela e descrever o que se passa no meu dia a dia consciente ou inconsciente, delírios de uma loucura inconformada com as realidades da vida de muitas gentes que me adoecem os pensamentos e arrefecem o meu amor.
Não sei viver de faz de conta, nem pensar de maneira diferente.
Ou será que aprendi errados os valores que me ensinaram em criança? Ou será que passaram de moda sem que eu desse por nada?
É desconfortável ver como as pessoas tratam a vida de cada um, sem o menor respeito ou sentimentos.
É desumano olhar para as vidas que ajudamos a construir sentirmos que não fazer-mos parte delas.
É triste amar quem simplesmente nos deixa de amar, porque incomodamos.
Sufocada pelo desespero que me provocaram estas interrogações abri a janela para respirar fundo e gritar.
Poquê tanto desespero ?
Chegou-me aos ouvidos um burburinho que me faz abrir a janela e espreitar uma outra janela onde posso ver o desenrolar da novela “poder” que tem liderado as audiências nos últimos dias na cidade de Elvas e freguesias. e também por todo o lado onde existe a duvida sobre quem è realmente o presidente da autarquia de Elvas.
Debrucei-me um pouco mais na minha janela deixando que uma rajada de lembranças viesse ao meu encontro para me recordar daquele dia em que, num discurso foram utilizadas as seguintes palavras “ se fecharem a Maternidade eu demito-me”, ou quando se referiam a mim dizendo, “ela só está preocupada com o emprego “ quando eu, em conjunto com as outras funcionárias nos colocamos ao lado do Dr. Melo e Sousa tentando impedir o encerramento da Maternidade.
É verdade eu estava preocupada com o meu emprego, porque não tenho outro meio de subsistência e quase para além de, quase ter ficado no desemprego, com o encerramento do bloco de partos que era o meu local de trabalho, incomodou-me de sobremaneira as mentiras que foram usadas para convencer a população de que “nascer na Maternidade de Elvas era um perigo publico” , mentiras que hoje são o que são.
E como elvense de coração, pois é conhecida a minha paixão por esta cidade, incomoda-me, quando por alguma razão tenho de falar do presidente da minha Cidade e me fazem a pergunta ” qual deles”.
Olho além da minha janela até onde a minha imaginação, me poder levar e escuto as palavras que tem sido ditas na comunicação social ao longo desta semana assim como tudo o que tenho lido sobre o título dessa novela.
No dia da inauguração da feira do livro, na apresentação do livro, o autor referiu-se ao sr. Comendador chamando-lhe de presidente Rondão de Almeida, sem que uma única vez fosse corrigido, não gostei., ninguém gostou.
Pergunto-me se nos bastidores, entre as eleições e a vitória do Dr. Mocinha,ele terá feito algum acordo para candidatar-se apenas como testa de ferro?
Se foi sim, faz sentido o que se tem dito como por exemplo “ ele é o presidente, mas quem manda sou eu “.Ou aquela frase que li recentemente; “ nós o colocamos na Presidência da Câmara.“
E neste conflito de poder parece que o lugar de Vice-presidente não existe e a reivindicação de lugares tenha como única preocupação o lugar de presidente. E então porque não foram apresentadas as renúncias para cair o poder autárquico “presidente “ e realizarem eleições ?
É daqui desta janela de onde espreito para lá da minha fantasia que vislumbro essa realidade maldosa de cheiros putrefactos onde a mentira é a rainha que muita gente serve, abdicando de valores e compromissos para se subjugarem a uma razão sem razão para existir.
Bom dia
Por razões que a razão desconhece, há muito tempo não abro a minha
janela e nem sequer espreitei através dela o decorrer dos dias desta
ausência. Tal como o tempo o meu coração tem atravessando tempestades
sentimentais onde o amor se defende a custo dum sentimento malicioso
que tenta perturbar-me a vida.
Mas hoje aqui estou de portadas abertas e janela escancarada para a
vida dando graças a Deus por cada dia e também por me ter dado forças
para resistir e manter a fé, por depois de cada tempestade, vem sempre
a bonança cheia de sol e alegria.
E também aconteceram coisas boas, como a primeira Gala do Coração em
Elvas que se realizou no Cine teatro no dia 21 do mês de Junho, com
artistas guianenses e fado, uma fusão que foi ouvida pelo mundo
através da RDP África, como também através da Internet em linha aberta
e foi um sucesso atingindo-se os objectivos, que foi angariar roupa de
bebé e recém-nascido para a Maternidade do Centro Medico Emanuel da
Guiné-bissau, quase tonelada e meia que dará para vestir os bebés que
ali nascem durante quase e seis meses.
São esses momentos que me servem de armas contra o desamor que tem me
atormentado o coração e o pensamento e impedido de abrir a minha
janela, mas hoje com ela escancarada gritei bem alto, bom dia alegria
e dei uma abraço gigante a toda a gente que eu conheço e que se
encontra espalhada pelo mundo.
Hoje Abril
Por falta de espaço para gerir os acontecimentos que
me assaltam os sentimentos ao longo dos dias, perco a vontade de abrir a minha
janela e olhar para lá das vidraças o
mundo que me rodeia.
Mas hoje escancarei-a e debrucei-me para arejar as
ideias e deixei esvoaçar as cortinas da minha imaginação voarem tão longe que
dei por mim diante daquele dia em que a Maternidade Mariana Martins foi
encerrada.
Diante da ilusão na luta pelo seu funcionamento, na
recolha das assinaturas para um baixo assinado que não foi entregue em lado
nenhum, do protagonismo que a causa deu a algumas caras ao cocarem-se ao lado da
interessante defesa do Dr. Melo e Sousa sustentada por um testamento em que a
benemérita doava a cidade em favor da mulher, do parto e crianças.
Essa lembrança causa-me ainda algum constrangimento,
porque as mentiras e os oportunismos que envolveram todo o processo se
transformaram em terrorismo para com as funcionárias da Fundação que ficaram
durante 7 meses dentro das instalações da mesma impedidas de trabalhar.
Diante dessa lembrança do passado vejo-me
no presente onde o Hospital de Elvas se encontra sobre a ameaça de ver cumprido
o projeto iniciado com encerramento a sala dos partos da Maternidade, e que
tinha a finalidade, encerrar as urgências.
Grito em silêncio para lá da minha janela,
agoniada com malabarismo que a mentira tem feito ao logo do tempo vencendo e
convencendo o povo a calar e a perder sem reivindicar aqueles direitos conquistados
num dia de Abril.
O coração acelera com esse pensamento e
sinto uma espécie de raiva e nojo dessa gente sem escrúpulos que
durante quarenta anos destruiu a liberdade de Abril e o sonho dos portugueses.
VOLTASTE
Ai como foi bom acordar nos teus braços, sentir esse beijo quente e suave na minha pele e se não fosse o vento a baloiçar nos ramos daquela árvore eu tinha escancarado para ti, a minha janela. Mas fiquei um pouco mais ali deitada, a contemplar-te enquanto tu percorrias os contornos do meu rosto, ofuscando-me a visão com a reste-a de luz com que me acariciavas.
.
Já tinha gritado nalguns momentos o teu nome e quase desesperei com saudades do teu calor, dos teus cheiros, das tuas cores e da felicidade que me fazes sentir quando apareces. Tudo floresce ao teu redor e até as aves se alegram no céu ao sentir a tua presença.
Que bom saber que vais ficar por cá, algum tempo, que me vais acordar e fazer sorrir a cada manhã e que o cinzento vai ter luz e os teus abraços quentes vão matar esta saudade que sinto cada vez que te ausentas da minha janela, quando vais para outros lugares.
Mas quando regressas, não vens sozinho. Com pincéis de luz pintas arco-iris e flores de todas as cores em paisagens estonteantemente belas nessa tela gigante que é o meu Alentejo, e trazes contigo a primavera.
DEPOIS DO ADEUS
Parada diante da minha Janela, vejo um rosto refletido entre
mim e a paisagem por de trás da vidraça, cabelos revoltos, desgrenhados e os
olhos ainda semicerrados, inadaptados ainda à luz o dia. Sorri ao reflexo de mim
ainda desacordada,
O dia despertou-me de modo diferente, com ramos de luz de cores
mais alegres, vivas e acrescenta um pouco mais de tempo a cada amanhecer. Olhei
ara lá das vidraças, bem longe de mim, mentalmente trauteando a melodia dum
fado que me tinha ficado no ouvido e que adormecera comigo, deixei-me voar nas asas
desse poema até acordar.
O dia passa ao meu redor, com muitas novidades, acontecendo
cada coisa no seu tempo, até que me vejo sentada com as mãos sobre o teclado do
computador e os olhos presos na série televisiva “Depois do Adeus “.
Eu queria escrever sobre todas as coisas, que nos fazem
sentir alegria, mas a ideia dissipou-se de repente ao reconhecer-me nalgumas daquelas
cenas, naquela liberdade alcançada no dia 25 de abril, onde os sonhos voaram
para la das limitações que a ditadura impunha em fronteiras de escravidão, tão
diferentes, mas tão iguais às dos novos tempos.
Uma lagrima cai pela minha face e aquela sensação de
frustração aperta-me o coração mais uma vez, ao lembrar meus sonhos de menina,
mas também do sonho de muita gente que acreditou que um dia “depois do adeus”,
seriam livres.
Ficou na história a memória as ideias desses capitães de
abril que sem querer ajudaram a enriquecer mais uns quantos que ainda hoje se
sustentam à custa dum povo cada vez mais escravo e mais pobre.
O Sol que me acordou foi-se embora e o dia tornou-se cinzento,
com frio e ventos que arrastam as lagrimas caídas do céu em rajadas fortes
contra as vidraças da minha janela, qual tela onde pinto o sonho do “fado que
não cantei”.
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