Parada diante da minha Janela, vejo um rosto refletido entre
mim e a paisagem por de trás da vidraça, cabelos revoltos, desgrenhados e os
olhos ainda semicerrados, inadaptados ainda à luz o dia. Sorri ao reflexo de mim
ainda desacordada,
O dia despertou-me de modo diferente, com ramos de luz de cores
mais alegres, vivas e acrescenta um pouco mais de tempo a cada amanhecer. Olhei
ara lá das vidraças, bem longe de mim, mentalmente trauteando a melodia dum
fado que me tinha ficado no ouvido e que adormecera comigo, deixei-me voar nas asas
desse poema até acordar.
O dia passa ao meu redor, com muitas novidades, acontecendo
cada coisa no seu tempo, até que me vejo sentada com as mãos sobre o teclado do
computador e os olhos presos na série televisiva “Depois do Adeus “.
Eu queria escrever sobre todas as coisas, que nos fazem
sentir alegria, mas a ideia dissipou-se de repente ao reconhecer-me nalgumas daquelas
cenas, naquela liberdade alcançada no dia 25 de abril, onde os sonhos voaram
para la das limitações que a ditadura impunha em fronteiras de escravidão, tão
diferentes, mas tão iguais às dos novos tempos.
Uma lagrima cai pela minha face e aquela sensação de
frustração aperta-me o coração mais uma vez, ao lembrar meus sonhos de menina,
mas também do sonho de muita gente que acreditou que um dia “depois do adeus”,
seriam livres.
Ficou na história a memória as ideias desses capitães de
abril que sem querer ajudaram a enriquecer mais uns quantos que ainda hoje se
sustentam à custa dum povo cada vez mais escravo e mais pobre.
O Sol que me acordou foi-se embora e o dia tornou-se cinzento,
com frio e ventos que arrastam as lagrimas caídas do céu em rajadas fortes
contra as vidraças da minha janela, qual tela onde pinto o sonho do “fado que
não cantei”.