Por falta de espaço para gerir os acontecimentos que
me assaltam os sentimentos ao longo dos dias, perco a vontade de abrir a minha
janela e olhar para lá das vidraças o
mundo que me rodeia.
Mas hoje escancarei-a e debrucei-me para arejar as
ideias e deixei esvoaçar as cortinas da minha imaginação voarem tão longe que
dei por mim diante daquele dia em que a Maternidade Mariana Martins foi
encerrada.
Diante da ilusão na luta pelo seu funcionamento, na
recolha das assinaturas para um baixo assinado que não foi entregue em lado
nenhum, do protagonismo que a causa deu a algumas caras ao cocarem-se ao lado da
interessante defesa do Dr. Melo e Sousa sustentada por um testamento em que a
benemérita doava a cidade em favor da mulher, do parto e crianças.
Essa lembrança causa-me ainda algum constrangimento,
porque as mentiras e os oportunismos que envolveram todo o processo se
transformaram em terrorismo para com as funcionárias da Fundação que ficaram
durante 7 meses dentro das instalações da mesma impedidas de trabalhar.
Diante dessa lembrança do passado vejo-me
no presente onde o Hospital de Elvas se encontra sobre a ameaça de ver cumprido
o projeto iniciado com encerramento a sala dos partos da Maternidade, e que
tinha a finalidade, encerrar as urgências.
Grito em silêncio para lá da minha janela,
agoniada com malabarismo que a mentira tem feito ao logo do tempo vencendo e
convencendo o povo a calar e a perder sem reivindicar aqueles direitos conquistados
num dia de Abril.
O coração acelera com esse pensamento e
sinto uma espécie de raiva e nojo dessa gente sem escrúpulos que
durante quarenta anos destruiu a liberdade de Abril e o sonho dos portugueses.