Ao avistar um amontoado de pedras caídas por entre um denso
matagal de arbustos, senti uma força estranha que me empurrou e me fez avançar
afastando as ferroadelas dos picos das sivas e das ortigas que se escondiam no
meio das ervas. Há minha frente surgem os escombros do que um dia muito
distante parecia terem sido uma casa, aventurei-me ainda mais e corri ao meu
encontrar, ali estava a casa onde eu havia nascido.
Foi mágico esse momento, gritei, abri os braços como quem
quer abraçar
e mimar esse tempo fantasiando
através das histórias que meus pais me foram contando do tempo que ali tinham
vivido.
A minha sobrinha fotografava cada uma das minhas emoções, é
até mesmo o instante tudo ganhou vida e eu me vi a correr naquele espaço e a
baloiçar naquele enorme plátano onde meu pai tinha feito para eu brincar e que
as crianças da casa ao lado empurravam enquanto eu ria as gargalhadas.
Foi ali no aconchego daquelas paredes com as dificuldades
daqueles tempos, que dei os primeiros passos e disse as primeiras palavras, foi
ali que fiz as primeiras birras e dei as minhas primeiras rizadas, mas para eu comer, tinham que cantar para mim.
Claro que diante daquele amontoado de lixo e pedras soltas
que um dia foram paredes lembrei do motivo porque estava na minha terra natal e
senti uma enorme dor no peito.
Ao ver o que restava da fábrica onde meu pai trabalhou, as
chaminés de tijolo quase a tocar o céu e para onde ergui meus olhos marejados de
lágrimas o meu coração soluçou de saudade dos meus pais há muito tempo me
deixaram de contar as histórias do tempo em que vivi naquela casa e agora o meu
irmão mais velho também partiu ao seu encontro