Encostada a minha janela deixo-me envolver pela nostalgia de
algum momento esquecido dentro de mim, enquanto oiço o fado na voz dalguém que
canta o amor e a tristeza com mãos cheias de nada.
Espreito ao longe essa encruzilhada de caminhos, onde os
passos se arrastão nas decisões tomadas pela solidão, e na tristeza dum coração
vazio transformando vidas em momentos tristes e sombrios.
Passou o tempo e eu ali parada de olhos pregados na rua mal
iluminada onde não passa ninguém, apenas o meu pensamento a percorrer as pedras
da calçada, pisando um asfalto de silêncio num caminho sem sombras.
Como o tempo passa nesta calmaria de horas tão cheias hoje
de mim.
Olhei para o meu rosto espelhado na janela e sorri, apesar
dos anos achei-me bonita, com meus cabelos brancos a serpentarem a cabeça e
apesar das rugas as minhas mãos não estão mais cheias de nada, porque
transbordam de afetos sinceros, verdadeiros, autênticos e puros.
Hoje posso sonhar, pedir sem implorar, posso rir e
gargalhar, sem precisar fantasiar a vida fingindo ser feliz.