Acordei no
meio dum sonho que me desorientou no tempo e no espaço e levei algum tempo até
identificar onde me encontrava. Levantei-me e olhei-me no espelho, mas não me vi,
porque o meu olhar estava mais longe nalgum lugar do meu imaginário, que me faz
lembrar de ti aqui em Guiné Bissau.
Tu e eu chagamos a ser nós, um sonho que esteve
ao nosso alcance e tinha-mos tudo para sermos felizes se não tivesses bebido o primeiro
gole de álcool.
Acordei com
as imagens do dia em que nos casamos e senti o meu corpo contrair-se pela dor
que me causou essa lembrança, porque foi o dia mais lindo da minha vida, mesmo
não tendo levado aquele ramos de rosas que eu tanto queria, mesmo não tendo vestido
aquele vestido de noiva com o qual eu tanto sonhei, mesmo não tendo os
convidados nem a família ao meu redor como qualquer noiva desejaria ter. Tu
estavas lá, assumindo perante DEUS e as duas testemunhas que serias o
companheiro, o amante e o amigo de todas as horas até ao fim das nossas vidas,
juraste fidelidade, amor e respeito.
Que ilusão
ao olhar para o meu dedo anelar e dizer-te tantas vezes que já és meu marido.
Mas traíste-me
sem compaixão, sem pudor, sem vergonha. Entregaste-te ao prazer que te dava a garrafa
enquanto esvaziavas o seu líquido. Traíste-me quando escondias as garrafas vazias
e cheias dentro da chaminé da lareira, quando ficavas as horas da minha folga ao
telefone a conversar com aquela mulher que eu nunca conheci.
Traíste-me
quando debaixo do arco da camara da cidade onde estas agora, te vi aos beijos
aquela mulher a quem escreves-te aquela carta que guardo para que não digas que
fui eu que inventei. Traíste-me quando eu procurava o teu abraço e os teus
braços se negavam a abraçar-me. Traíste-me quando nos teus sonhos chamavas pelo
nome da maria com palavras de amor.
Traíste-me
naquela noite de natal quando na varanda da casa do teu irmão falavas ao
telefone usando palavras de amor, quando tudo e todos estavam ali ao teu lado.
Traíste-me
no dia em que sais-te de casa, para fazer o programa de radio na cidade onde
agora moras, e eu tive que ligar para ti e de lá me disseram que há muito tempo
que tu não colaboravas no programa.
Traíste-me
quando sabias que eras o meu primeiro e ultimo pensamento, que eras o meu sol e
o meu oxigénio.
Procurei-te
em todo o tempo e no limite das minhas forças pedi o divórcio, com a ilusão, de que o sentias por mim ainda era forte o suficiente para te negares a assinares aquele papel e me pedias perdão por
teres traído o meu amor. Mas assinaste e ainda me ajudas-te a fazer a minha assinatura
Durante muitos
anos não conseguia lembrar-me desse dia, mas hoje aqui bem dentro do meu
imaginário sei que sofri até não aguentar mais, que o mundo me engoliu,
mastigou e vomitou. Que a vida deixou de fazer sentido e que morrer era a única
solução e meu coração gritou dia e noite a mesma frase durante anos, eu não
merecia.
Foi difícil encontrar
o trilho para recomeçar a viver sem ti, sem os filhos que não pari mas que
aprendi a amar, sem a família que eu adoptei como minha, mas que era a tua família.
Escrevi
mensagens sem fim durante muitos anos para o teu telemóvel, chorei durante
muito tempo e hoje voltei a chorar, porque acordei num sonho que me fez
recordar o dia em que nós voltamos a ser eu e tu, separados pelas escolhas que
fizeste naquele dia em que bebeste.
Aqui neste
país onde o, nada é uma riqueza, despida de tudo e longe da minha zona de
conforto, eu voo no tempo e nas histórias que me contavas e nas fotos que vi
dos lugares onde estiveste para te encontrar no passado, porque tu não tens presente
dentro desse meu imaginário quando sonho acordada.
1 comentário:
Rosinha que coragem e que mulher, parabéns pelas palavras que escreveste, pelo teu sentido de humor, que mês faz tão bem quando leio.
Um beijo no coração e continua e sê feliz.
Paula Morais
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