Abandono


A família juntava-se na igreja para dizer o último, adeus ao seu ente querido e acompanha-lo a sua última morada no cemitério.


Vi uma cadela a rondar sem se aproximar, lembrando-se do tempo em que vivia naquela família e talvez do dia em que foi abandonada no meio do caminho, por um dono que se aborrecera da sua companhia.
Aproximava-se devagarinho farejava os cheiros e os hábitos que ainda lhe eram tão familiares, reconhecendo os sons e os gestos que aprendera a amar e aos quais fora submissa.
Uma ou outra pessoa reparava nela e fazia-lhe umas festas reconhecendo-lhe o abandono e talvez até sentissem pena da pobre bicha, que de rabinho pendurado estremecia com medo que a espantassem dali por ela já não pertencer aquela família que ela amara tanto.

E quando se sentiu segura num lugar de onde poderia observar aquietou-se e ficou ali ignorada por uma multidão de gente e chorou por aquela que a tratara bem.

Diante dos seus olhos passou aquele que um dia fora o seu dono e que a trocara por outra que agora leva a seu lado presa por outra trela

Nesse instante senti bater ofegante e a dor no coração dessa cadelinha, que gemeu ao cheirar o odor que ficara no ar depois da sua passagem

O animal ergueu-se, levantou o focinho e foi embora sozinha...Eu fechei a minha janela e chorei porque senti o abandono daquela cadelinha