Farim



As palavras, baralham-se de tal forma no meu cérebro que quase não consigo dar-lhes forma e escrever o que tenho para dizer do lugar que visitei.
Aqui diante da folha virtual a olhar para o nada que resta desse tempo que envelheceu e esbateu até perder as cores das coisas que mal consigo recordar.
E talvez, por ouvir  falar tanto deste país e das histórias  que me contaste , tropecei nessas lembranças  e  procurei-te nesse tempo ao visitar esse lugar.
Encontrei, ruinas e escombros dum tempo que se, existiu, quase ninguém sabe contar.
Lembrei-me que, lugares vazios, também acontecem na vida em cujas ruínas, os estilhaços nos marcam o coração de cicatrizes tal como um país ferido pela guerra.
Farim, foi um nome que decorei e encontrei quase exactamente como fora no passado, mas com outras gentes.
De repente lembrei-me que vi fotos tuas, que tiraste quando estiveste aqui e procurei-te em cada recanto e pronto estavas ali diante da mira da minha camara enquanto eu semicerrava os olhos.
Continuamos?- Estremeci ao ouvir aquela voz e fiz rir uns, dentes muitos brancos no rosto negro do homem que me acompanhava pelo lugar.
Depois, sentada no banco traseiro da carrinha que seguiu para Bula, consegui a custo segurar as lagrimas que teimosas pretendiam desrespeitar o meu silêncio e denunciar o meu segredo.
Captei, o brilho dos teus olhos, o teu sorriso e ouvi a tua voz cantando ao som dos acordes saídos dos teus dedos abraçado a tua viola naquele instantâneo fotográfico do meu imaginário
Foi mágico esse momento rebuscado ao tempo em, que se deixa de sonhar e as amarguras qual, erva daninha se emaranharam às ruínas da nossa história abandonada.
Lembrei de ti nesse encontro com o tempo e senti saudade do amor que morreu asfixiado nas garrafas de uísque tornando-te incapaz de fazeres alguém feliz.
Eu não merecia!!...
Gritei em silêncio durante anos e foi o gemido do meu coração, naquele lugar chamado  Farim.

Voltei a Guiné Bissau



Desta vez a viagem foi mais tranquila,o viajante que se sentara ao meu lado, não se calou em toda a viagem.
E quando o avião aterrou no aeroporto de Bissalanca e se abriram as portas o ar impregnou-se de imediato dos cheiros que tornaram todos os odores ainda mais intensos e até eu já cheirava a africa.Desci as escadas com o coração  a bater tão rápido que mal conseguia respirar pela emoção de voltar à Guiné Bissau. 

Ao passar pelo control , mandaram-me abrir a mala de viagem, para fexar de seguida e lá saí para fora do aeroporto onde o missionário deveria estar a minha espera, mas ainda não tinha chegado  e permaneci ali durante algum tempo olhando meu redor tentando encontrar esse rosto  familiar que me ia buscar. Ao contrario dos outros dias o avião chegou mais cedo que o habitual
Táxi? …Precisa táxi? Gritavam-me do outro lado da rua, numa mistura de crioulo e português, ao qual eu ia abanando a cabeça dizendo que não precisava.
O vizinho do assento ao lado no avião, depois de ter colocado as malas no carro que o viera buscar, ficara a fazer companhia e falou…falou de novo tanto, mas eu já não o ouvia, pois toda a minha atenção estava virada para cada carro que chegava vindo do meio da escuridão que fazia para la da entrada para o aeroporto.
Mas de repente alguém tocou no meu ombro dizendo o meu nome e, que alivio, era a voz do missionário que me vinha buscar.
A partir daí tudo foi mais facil e quando avistei o grande portão vermelho da Casa Emanuel, não consegui segurar aquela lágrima que espreitava nos meus olhos desde que saí de Portugal, caiu finalmente  livre até molhar o meu rosto e eu soluçar.
Não encontrei palavras para descrever a mistura de emoções que  ferveram no peito para dizer o que senti quando fexei atrás de mim a porta do quarto que vai ser o meu espaço durante os 6 meses que vou ficar aqui.
Chorei  e ri até adormecer.