ELVAS , CIDADE DA MINHA PAIXÃO


Acordei e olhei o dia que me espreitava lá na janela onde a brisa noturna entrara para refrescar a minha noite.

Ainda era cedo e deixei-me ficar envolvida em pensamentos , fruto de vivencias do dia a dia, de comportamentos interesseiros que ora dizem mal até a desonra, ora passam a bajular ao ouvir uma qualquer promessa. Tal qual como se abana um naco de carne fresca a um cão, para que ele fique dócil e domável.



Vieram-me aos ouvidos excertos de algumas passagens, que nesta altura se transformaram em completas manifestações de adoração e submissão ao que antes foram criticas despudoradamente maldosas.



Memória curta ? Dividas de favores passados ? Rabos presos ?

O que seja, mas que num acenar de mão, mudaram de opinião a favor do que não se concordava.



Pesadelo que não tenho, e a minha consciência deixa-me adormecer tranquila e acordar descansada, mas faz-me pensar, na pobreza de mentalidades que andam por aí e que a troco de nadas e deixam convencer por falsas promessas.

Deslumbrante


Acordei meio estonteada pelo muito que dormi neste tempo em que me ausentei da janela onde os tantos acontecimentos se inventaram tantos palcos se montaram e desmontaram e eu não vi as senas se desenrolarem, não critiquei nem aplaudi



Apática e distante daquele frenesim que me sobressalta os sonhos aventureiros que me arrastam para lugares inimagináveis, tão fantásticos e quase tão riais no meu imaginário , encostei a

cabeça à vidraça e senti um frio queimar-me a pele e afastei-me, meus dedos experimentaram rascunhos no vidro embaciado pelo meu hálito, enquanto espreito ao mesmo tempo que passou para la da minha janela durante a minha ausência .



O dia está cinzento , cheio de nuvens carregadas de negrura que de vez em quando descarregavam tanta água transformando a estrada diante da minha janela parecer riacho com grandes levadas pondo os carros estacionados em perigo.



De vez em quando o céu é rasgado por um relâmpago seguido de outro que arrasta consigo um rugido distante enquanto a chuva vai caindo e o vento sopra mais forte . Não sei quanto tempo fiquei ali olhando aquele quadro de cores cinzentas, onde tudo se movia

a pomba

Hoje obriguei-me a escrever qualquer coisa, que me acorde para a vida e me faça ir até há minha janela, sair desta espécie de apatia onde me escondo até sentir pena de mim.

Sacudi a manta onde me enrolei e espreitei para la da chuva num céu cinzento de inverno onde as temperaturas frias nos fazem doer até aos ossos. Aconcheguei-me no casaco de malha quentinho e encostei-me, embaciando as vidro com o vapor quente da minha respiração, com o dedo desenhei um coração e atravessei-o com uma seta e fiquei ali olhando aquele desenho meio naífe a despenhar-se lentamente ate ao parapeito da janela.

A chuva tornou-se mais intensa , os pingos pareciam pedras a bater contra as vidraças, de vez enquanto um rugido vindo de longe soava pelos ares até aos meus ouvidos, quando uma pomba veio abrigar-se no beiral da minha janela. Ela olhava para mim, mas perante o meu ar estático, não se assustou e eu sorri para ela e para mim.

Uma pomba é símbolo de paz , talvez a paz que eu precisava, mesmo em tempo de intensas trovoadas e de chuva, escancarar a minha janela, e gritar o que me alegre, o que me entristece e o que me diverte.
O chuva parou, a pomba sacudiu as asas olhou para mim, rodando a cabeça, como as aves fazem, e ao ver a minha cara rasgar um sorriso voo .

E eu fiquei a pensar