Esquecer

Chega até mim o chilrear das andorinhas e dos pardais que no beiral do meu telhado e na árvore por baixo da minha janela, reconstroem os ninhos e anunciam a chagada da primavera.


Estendo o olhar através da planície e quase oiço o gemido dos campos e reclamar pela agua que não choveu no Inverno.

E mergulho nos meus pensamentos, que ultimamente reclamam nos porquês de certas existências e nos ses, que nos atropelam a vida e nos marcam o coração com cicatrizes para sempre.

E se pretendes que alguém te oiça um momento, a palavra que ouves mesmo antes de fazer algum desabafo é: Esquece, ou tens que esquecer.
Pergunto-me tantas vezes como isso se faz? Porque eu quero esquecer tanta coisa que me faz doer a alma e o coração.
Quantas vezes ouvem gente dizer, eu esqueci, eu passei a frente e a seguir contam a história que estava esquecida e apagada como se tivesse sido passada no dia anterior sem esquecer nenhum dos pormenores que as fizeram sofrer.
Isso é esquecer?

O vento

Acordou-me esta noite, ao passar pela minha janela, esbarrou de encontro a veneziana num estrondo que me fez saltar da cama, meio estremunhada e assustada.
A Kika que também dormia junto aos meus pés, deu um salto e ficou pasmada a olhar para a janela  onde vento havia esbarrado ao passar.
Levantei-me e fui espreitar.
A rua estava deserta, as casas adormecidas. Ouvia-se apenas o zumbir do vento na torre das telecomunicações e na esquina da casa do lado a fazer-me companhia por muito tempo até que o vendaval se acalmou e partiu levando consigo o sono que me roubou deixando-me na companhia das minhas lembranças até ao acordar de mais um dia.
Lembrei-me da nossa conversa e sorri, porque me fizeste recordar  do tempo em éramos uns jovens inconsequentes, quando a vida nos parecia inesgotável e o futuro pertencia a só DEUS. Lembrei do teu mini estacionado ao lado do meu e dum futuro para muito depois sem qualquer pressa de alcançar.
Esta a sorrir ainda quando o frio me trouxe-me de volta á realidade.
 Kika estava refastelada no lugar que lhe competia, abria os olhos meio ensonada e arreliada por eu estar à  janela, a  miar-me com alguma insistência,quem sabe a dizer para eu me deitar e adormecer.