A minha história de amor


Conheci o meu marido numa igreja evangélica, frequentada também por uma amiga comum, que já me tinha dado informações desse amigo, despertando-me alguma curiosidade, mas eu ainda lambia as feriadas deixadas por um casamento de maus tratos psicológicos, frustrações e duma profunda desilusão.
Eu não me sentia preparada para nada. Sem auto estima e amor-próprio, vivia o dia-a-dia como robô, as voltas com uma terrível depressão que um dia disparou o gatilho, adoecendo-me o corpo num cansaço doloroso em que me foi diagnosticado fibromialgia.
Esvaziada de tudo o que fazia parte da minha história de vida, fui em busca do trilho que atrás de mim, quase se tinha apagado. Aceitei fazer voluntariado na Guiné Bissau na Instituição Casa Emanuel através da ONGd Coração na Guiné, para onde o equipamento da Maternidade Mariana Martins de Elvas tinha sido doado, após o seu encerramento pelo Estado Português.
Talvez fosse o meu ultimo projecto ou a única coisa boa que faria, já que tudo o resto não tinha sido um mão cheia de nada.   
E fui por duas vezes para a Guiné , onde trabalhei e dei formação, entreguei-me de corpo e alma a tudo o fazia para não pensar. A sala de partos era o meu opio e os partos davam luz à vida que me tinha sido apagada.
Quando regressei da ultima vez , tive a triste noticia, a nossa amiga comum tinha nos deixado e isso de certa forma nos aproximou , pois começamos a conversar, a conhecermo-nos  e pouco a pouco fui-me afeiçoando a sua pessoa , pela forma de escrever e depois de falar, chegando a sentir falta do som da sua voz.
Entretanto por causa dum familiar seu,  que precisou de ser consultado no hospital e que ele acompanhava cada vez que vinham a consulta , encontrávamos e tomava-mos café juntos, no bar do hospital.
Mas eu não queria uma aventura, nem um namorado colorido, dizia eu cada vez que o diálogo se tornava mais íntimo eu fugia do assunto.
Eu trabalhava no 3º piso do Hospital Santa Luzia de Elvas e ele sempre me acompanhava ao meu local de trabalho  depois de tomar o café.
Mas naquele dia foi diferente.
A porta do elevador fechou-se atrás de nós, íamos sozinhos  e num instante eu fui roubada dum beijo, e foi o mais lindo que alguma vez recebi.
Caíram todas as barreiras, até o projecto de voltar à Guiné e ficar lá para sempre doando o que restava, como quem põe um ponto final no que sobrava de mim.
Mas Deus apagou o ponto final que eu tinha colocado e substituiu  por uma virgula  para eu reescrever a minha história colocando os personagens certos na minha vida
Casei no Cartório do Crato no dia 2 de Março de 2018
A partir daí a vida voltou a sorrir, o medo dissipasse e agora sou uma mulher feliz, apesar de me ter casado aos 61 anos, com António João Matutino Paixão de 62 anos.
Nunca é tarde para amar

Rosa Maria Bernardes Abrunheiro Matutino Paixão

Fim de semana


Adormeci ao som da badaladas do relógio da torre da igreja já tarde da noite, mas com o coração cheio de alegria depois dum fim de semana caseio e de casa cheia.
A salamandra ao rubro emanava calor enquanto a lenha desaparecia na canastra para se voltar a encher novamente.
O meu sobrinho constipado quase não se levantou da cama , mas isso não atrapalhou o convívio desses dois dias maravilhosos. A cris , sua mulher e o filho Rafa, foram maravilhosos , com a alegria e a boa disposição que trouxeram  na bagagem dum coração generoso. 
Sou grata a Deus por esses momentos em que pude visitar o passado através  de memórias vividas da nossa infância e também recordar aquela que foi para nós muito muito importante a mãe do João , meu sobrinho, ao qual eu também chamava de mesinha.
As horas passaram tão rápidas que de repente já tudo tinha acabado e eu ainda ouvia as badaladas do relógio da torre da igreja da aldeia .
O meu marido foi um  companheiro e tão atento a todo  entusiasmo desse dia, adormeceu tão tranquilo e feliz com a minha felicidade que me senti tão grata a Deus por esse maravilhoso fim-de-semana.
De certeza que o relógio tocou, mas já não ouvia as badaladas.